terça-feira, 29 de setembro de 2009

A indústria do Axé

Manno (baixo), Tuca (vocal e guitarra) e Beto (guitarra) formam o Jamil e Uma Noites

"É o axé que faz o artista, não é o artista que faz o axé.” Falando abertamente, Manno Góes, baixista do Jammil e Uma Noites, contou um pouco sobre a limitação que esse estilo de música baiana impõe aos artistas que dele vivem. De acordo com Manno, a indústria do entretenimento que gira em torno do Carnaval e da venda dos abadás faz com que músicos fiquem presos ao tipo de música que faz a alegria de foliões. Afinal, eles têm que fazer lá em cima a trilha para a azaração correr solta lá em baixo. “A gente é meio escravo dessa indústria.”

A despeito disso, cada músico incorpora em seu som novos elementos para se diferenciar uns dos outros e criar suas próprias identidades. É aí que está a oportunidade para cada um mostrar sua criatividade e burlar, na medida do possível, essa servidão. “Daniela (Mercury) mesmo é sensacional, passeia por vários estilos. Ivete está sempre procurando colocar baladas e outras coisas a mais que o universo do Carnaval.” Mas, de fato, a “estrutura de bloco, promover o beijar na boca, é uma coisa que limita um pouco os artistas. A gente tem uma indústria dos abadás, aqueles que vendem mais são aqueles que têm mais projeção no país.” E não é à toa que o Jammil é uma das principais bandas do segmento. Manno Góes foi considerado o 5º maior arrecador de direitos autorais do Brasil em 2008, dado divulgado pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) - parte disso deve-se ao hit “Praieiro”.


Apesar de ter tirado uma folga desse universo da axé music, Manno volta este fim-de-semana a fazer shows pelo Brasil acompanhando a banda. Ele, que deixou um substituto em seu lugar durante algumas apresentações, enquanto viajava à trabalho – e também de férias, já que aproveitou Los Angeles para passear com a namorada – deverá estar em Salvador no dia 1º de agosto para a realização de mais um Luau do Jammil. O evento será realizado no Gran Hotel Stella Maris. Os ingressos já estão à venda na Ticketmix, Central do Carnaval e nos balcões de ingressos dos shoppings. É o mercado do entretenimento que não para.



Mais e mais projetos

Fervilham na cabeça de Manno novos projetos envolvendo também o Jammil e Uma Noites. Um deles está sendo pré-produzido nessa semana. É um CD cujas faixas serão de autoria de garotos de ONGs baianas, como Mangangá, Cortejo Afro, Projeto Axé e Olodum Mirim. Cada música terá a voz de um artista diferente. Entre os nomes confirmados já estão Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Durval Lelys, Márcio Victor, e claro Tuca Fernandes, vocalista do Jammil. “A gente vai começar a gravar em agosto. Vamos aproveitar ao máximo as crianças para tocarem os instrumentos no álbum”, conta o produtor dessa empreitada.


E novos DVDs do Jammil vêm por aí. Após a apresentação do grupo no Festival de Verão deste ano foi feito à banda um convite para que aquele show fosse lançado em DVD. Apesar de nada ter sido programado e não terem feito, segundo Manno, qualquer preparação anterior, o registro está sendo finalizado e deve sair nas próximas semanas. “O som vai ser estéreo, com áudio real do show e com os erros também. Graças a Deus que acertamos mais do que erramos”, brinca. Além disso, um DVD com ares cinematográficos, que terá um roteiro diferente de um show comum, será rodado em novembro, na Estrada Real de Minas, com destino a Paraty, no Rio de Janeiro. No set-list, 14 músicas inéditas e participações de Skank, Jota Quest e do Clube da Esquina.

Enveredando por uma seara nova, Manno está compondo para a trilha sonora da peça teatral “O Menino do Dedo Verde”. A adaptação do livro infanto-juvenil francês, escrito por Maurice Druon, em 1957, terá Fernanda Ayres como diretora. Os ensaios estão programados para serem iniciados em setembro. “Tenho recebido muitos convites para fazer músicas para outros artistas mas estou sem tempo”, pondera ele com uma justificativa, digamos, desnecessária diante de tudo que já contou. “Está sendo um ano muito produtivo, isso me faz muito bem”.



*matéria originalmente publicada na edição da Tribuna da Bahia do dia 27.07.09
** fotos de Felipe Oliveira / divulgação

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Vôo solo de Manno Góes

O baixista e compositor dos maiores hits do Jammil e Uma Noites, Manno Góes, retornou semana passada dos EUA, onde gravou parte do seu primeiro CD solo de pop rock. A produção do álbum envolveu grandes nomes da música contando com o aval da banda, que não vai perdê-lo, já que ele garante: “sou um cara de banda”



Depois de nove dias em Los Angeles (EUA), Emmanuel Góes Boavista desembarcou em Salvador no último dia dois de julho. Após compromissos, como definição de repertório de um próximo trabalho e shows em Porto Velho/RO (quinta), Curvelo/MG (sexta) e Colina/SP (sábado), ele embarca para o Rio de Janeiro na próxima segunda-feira, dia 13. Correria? Sim. Mas é disso que o baixista e principal compositor da banda Jammil e Uma Noites, mais conhecido simplesmente como Manno Góes, parece adorar. Inquieto e com uma atitude a mais para dizer o que pensa do que comumente se vê entre artistas de axé, ele fala à Tribuna da Bahia sobre seu CD solo.


O ponto inicial e o final desse pequeno trecho da agenda citada acima são momentos especiais para o músico que deixou de lado sua banda por alguns dias para deleitar-se sobre um bel prazer. A entrevista foi feita por telefone, mas a empolgação era perceptível através da voz de Manno que não demonstrou cansaço. Pelo contrário, ele está ávido por concretizar suas idéias. Uma delas teve início há dois anos, mas só agora sai do papel. Pela primeira vez ele solta a voz em um projeto só seu (quer dizer, sem a companhia dos rapazes do Jammil) e encara a gravação de um CD solo, explorando o pop rock. Vertente que já rendeu frutos através de composições suas gravadas, por exemplo, pelo Biquini Cavadão, como “Dani” e “Em Algum Lugar No Tempo”.


“Desde que renovei o contrato como compositor exclusivo da EMI, há dois anos, surgiu a idéia de fazer um trabalho saindo da idéia de Carnaval”, lembra. Entretanto, a agenda de compromissos com o Jammil atrasou um pouco essa possibilidade que, após o aval da banda, foi levada para frente. Ele faz questão de frisar que não tem pretensão nenhuma de sair do grupo e que não é cantor, é compositor. “Esse é um projeto paralelo, não é um disco de carreira. Sou um cara de banda e não me vejo fora disso”, diz, admitindo que nunca foi muito disciplinado com a voz.


Convidado por Manno, o músico que já está acostumado a tocar com o Jammil, Torcuato Mariano, assumiu a produção musical do álbum. Daí para ter o lendário baterista John Jr Robinson tocando em seu CD foi um passo. Ou melhor, dois. Torcuato o apresentou a Moog, que se tornou o técnico de som do disco, e este o indicou a Robinson. O “batera” é um dos mais festejados do mundo. Ele já tocou com Michael Jackson, Stevie Wonder, Quincy Jones, Paul McCartney, Lionel Ritchie, James Taylor, dentre outros. Moog, aliás, também é muito solicitado. O brasileiro é famoso por suas gravações com astros como Celine Dion, Madonna e Paul McCartney.


Entretanto, para gravar com Robinson, Manno conta que teria que ir ao estudo NRG de Los Angeles, Estados Unidos. Colocando as contas no papel percebeu que valeria à pena e a satisfação em gravar com um músico desse porte falou mais alto. “Moog disse que ele faria um preço legal e pronto, topei. (...) Quando alguns bateristas aqui da Bahia souberam que eu ia gravar com ele, me ligaram pediram pra eu tirar foto, pra filmar. O cara é um ídolo”. Então, passou quatro dias em estúdio gravando oito faixas do disco.


“É aquilo, tocar o que escrevi. Tive muita liberdade na escolha do repertório. Dentro de estúdio você se sente mais à vontade. Sempre componho um tom a mais que Tuca canta, aqui não precisei mudar nada, canto no tom que compus.” Em passagem pelo Rio de Janeiro, na próxima semana, ele se reúne com amigos da cena pop rock nacional para finalizar o trabalho. Entre eles estão: Coelho, guitarrista do Biquini Cavadão, Yves Passrel, guitarrista do Capital Inicial, George Israel, saxofonista do Kid Abelha , além de Beto Espínola, guitarrista da Jammil e Uma Noites.

No repertório, 12 músicas no total, sendo que “oito são inéditas até pra mim. Vamos mixar em agosto e em setembro deve sair”, fala. Sobre o lançamento, Manno ainda não faz muita idéia de como vai acontecer, nem se vai fazer shows baseados no disco. “É engraçado isso, o escritório tem recebido pedidos de shows meus, sem nem estar com o CD pronto ainda. Acho que só o tempo vai dizer”. Há uma possibilidade de o músico disponibilizar em seu site (que está sendo criado) as músicas do álbum simultaneamente a chegada dele nas lojas, mas isso vai depender da EMI. Além disso, ele não pode afirmar se essa circulação seria gratuita. “Eu posso liberar minha parte como artista, mas tenho que ver com a EMI, a editora, que não costuma fazer essas coisas”. O hitmaker (escritor de sucessos radiofônicos) alerta mais uma vez: “é um disco de compositor”.


*matéria originalmente publicada na edição da Tribuna da Bahia do dia 09.07.09
** foto de divulgação

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Invisibilidade

Que tal o poder da invisibilidade?

Poder ficar de cima do mapa só mirando.

Fitar olhos e ouvidos. Ouvir sorrisos e ver palavras.

Sem que se perceba, apreciar.

Poder atravessar léguas na carona do caminhão, na asa do avião.

Admirar gestos e atitudes. Cheirar cores e perceber perfumes.

Sem que ninguém note, vislumbrar.

Poder tocar, poderia?

Poder sorrir poderia.

Poder sentir, poderia?

Poder seguir poderia.

Poder?
Que poder teria o invisível?
Não sentir.

Não tocar.

Só sorrir.

Na sua invisibilidade.

por Dimas Novais

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Wolverine, agora protagonista de sua própria saga

Forças descomunais. Habilidades extra-humanas. Uma suposta evolução do homem. Essas características tornaram famosos diversos personagens super-poderosos da série X-Men, desenho animado que povoa a imaginação de uma legião de fãs, desde quando a primeira revista com a história, “The X-Men #1”, teve sua primeira edição publicada em 1963. Entre os personagens da saga que ganhou a TV e o cinema, Wolverine sempre foi o queridinho da Marvel Comics, editora norte-americana de desenhos em quadrinhos. No entanto, apesar da popularidade, seu passado demorou a ser revelado – três longas da série já estrearam e nada da vida pessoal do cara ser desvendada. Mas amanhã (oficialmente) esse mistério acaba. No feriado de 1º de maio, chega em mais de 500 salas de cinema do Brasil um dos longa-metragens mais esperados do ano: “X-Men Origens: Wolverine”, dirigido por Gavin Hoods. Com estréia mundial, o filme é estrelado pelo australiano Hugh Jackman que, após roubar cenas nos longas da trilogia, tem seu destaque, enfim, como protagonista.

Com o sucesso de bilheteria da primeira película da trilogia X-Men, dirigida por Bryan Singer, que estreou em 2000, e o consequente aumento da popularidade dos personagens da série, a equipe da Marvel percebeu que seria difícil deixar de revelar por muito tempo a história de Wolverine. No ano seguinte, a minissérie de HQ Origem, desvendou a questão. Agora, estreia nas telonas a polêmica produção, que caiu na Internet cerca de um mês antes do lançamento oficial nos cinemas. A versão que vazou, apesar de parecer ser completa, do início aos créditos finais, não apresenta todas as cenas, segundo a distribuidora Fox. Além disso, os efeitos especiais estão incompletos, revelando, por exemplo, alguns cabos que fazem o ator pular mais alto e animações que substituem a atuação de Jackman ou mesmo de um dublê.


Garras retráteis manuais revestidas do indestrutível metal adamantium e regeneração de tecidos musculares. Esses são os poderes do super-herói que o diferenciam dos reles mortais e é isso que o faz mutante, um x-men. Uma das cenas mais esperadas, aliás, é o momento em que ele tem seus ossos cobertos pelo metal, potencializando sua capacidade de destruição. Antes disso, em “X-Men Origens”, os fatos mais importantes da infância do personagem são desvendados, inclusive o fato dele ser fruto de um relacionamento adúltero de sua mãe com um capataz chamado Logan. Após ver o homem que acreditava ser seu pai assassinado pelo rude funcionário da família, James Howlett, como ainda é chamado, mata seu pai biológico. Passada a tragédia, ele segue a vida ao lado de seu meio-irmão, Victor Creed (Liev Schreiber), o Dentes-de-Sabre, entretanto, o abandona anos mais tarde por querer tomar rumos próprios. Quando sua vida amorosa desmorona, ele participa de uma experiência fenotípica, transformando-se no vingativo Wolverine. Está criado o embate entre ele e Victor, em meio a uma recíproca e ferina raiva que aumenta ainda mais o violento descontrole dos meio-irmãos.

Apesar do filme se passar um século e meio antes da trama primeira de X-Men, outros conhecidos personagens entram em cena, como o futuro líder da equipe de Xavier, Ciclope, que aparece ainda adolescente. O imensamente gordo e proporcionalmente forte, Blob (Kevin Durand) surge na trama grotescamente como o objeto irremovível que é - quando ele se fixa ao chão, ninguém consegue derrubá-lo. O lendário Gambit (Taylor Kitsch) também dá as caras com toda a habilidade de manipular energia cinética e no famoso arremesso de cartas, além de sua destreza em luta corporal e no uso de um cajado. É com grande expectativa que admiradores antigos da série esperam ver, enfim, se já não viram pela web, esses personagens retratados nas telonas e a história de Wolverine, o anti-herói mais violento dentre todos os mutantes.

["X-men Origens: Wolverine" já está disponível nas locadoras]


Texto por Dimas Novais


*matéria originalmente publicada na edição da Tribuna da Bahia do dia 30.04.09

** foto de divulgação


terça-feira, 15 de setembro de 2009

Que livro é você?

Se você fosse um livro nacional, qual seria? Um best-seller ultrapopular ou um relato intimista? Faça o teste aqui e descubra.

A maioria dos testes que chega a mim por e-mail costuma conter perguntas que julgo serem despropositais e sinto (quase sempre!) que perco tempo ao responder - é que uma vez que começo, não paro antes de ver o desfecho. Mesmo sem ter paciência para fazer os tantos testes que recebo ultimamente, fiz esse na hora porque achei muito interessante já na idéia. Achei as perguntas equilibradas e surpreendente o resultado, confesso. Pensei que o questionário daria em algum livro de aventura, de jornalismo, de histórias mirabolantes ou de comédia, mas não. Não mesmo! De qualquer forma, indico!

Eis meu resultado:
"Antologia poética", de Carlos Drummond de Andrade
"O primeiro amor passou / O segundo amor passou / O terceiro amor passou / Mas o coração continua". Estes versos tocam você, pois você também observa a vida poeticamente. E não são só os sentimentos que te inspiram. Pequenas experiências do cotidiano – aquela moça que passa correndo com o buquê de flores, o vizinho que cantarola ao buscar o jornal na porta – emocionam você. Seu olhar é doce, mas também perspicaz.
"Antologia poética" (1962), de Drummond, um dos nossos grandes poetas, também reúne essas qualidades. Seus poemas são singelos e sagazes ao mesmo tempo, provando que não é preciso ser duro para entender as sutilezas do cotidiano.

Ps1.: Estou aqui refletindo há vários minutos sobre esse tal resultado.
Ps2.: E com você, deu certo? Combinou ou não? Após fazer o teste, compartilhe o saldo dele aqui nos comentários e diga o que achou.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O fim. Mais difícil do que se presumia

Ele acorda às 10h da manhã. Sua perturbação durante a noite mal dormida foi o estopim para aquela situação que estava para acontecer. Ele precisa tomar uma iniciativa, não pode enrolar mais. Aquilo já não estava lhe fazendo bem. Nervoso, pensa por quase uma hora e, finalmente decide: vai fazê-lo naquele dia, em questão de horas. Pra que persistir em algo que não mais faz sentindo existir (!?), pensa. Liga para a vítima e marca um encontro na rua dela em 40 minutos – é só o tempo dele tomar banho, se vestir, apanhar um objeto que o ajudará na resolução daquele problema, e pegar um ônibus. Já sendo literalmente conduzido ao ponto final daquela história, percebe: aquele caminho parece mais longo que o comum. Suas mãos estão geladas e trêmulas. Nunca tinha feito aquilo antes.


Dúvidas sobre o que falar e de como agir quando chegasse ao local, fervilham sua cabeça de tantas indagações. Ao chegar ao ponto de encontro, percebe que a rua está demasiadamente movimentada para dar cabo à sua pretensão. Nem ele sabe ao certo o que irá acontecer naquela tarde: a reação dela diante do que ele tem a fazer e a sua própria atitude. Quando ela chega, ele sugere que entrem no apartamento dela. Ele não quer se expor, afinal.

- Ei! Por que você está assim? Acalme-se. - ela diz com um sorriso envolto por um questionamento quase que irônico e o convida a sentar.


Mas antes da consumação do fato, é importante que se saiba que ela não tem idéia do que está acontecendo na cabeça dele, muito menos no seu coração. Desfazer sonhos, desejos, projetos e um futuro construído no imaginário de alguém é uma atitude monstruosa. Magoar é o que ele menos quer. Ofender, tão pouco. Sabe que aquilo vai doer, mas sabe também que se não o fizer naquele momento, poderia não mais ter aquela coragem novamente. Em seu peito, sentimentos controversos se digladiam intensamente, entretanto, não há mais o que pensar. Deve apenas fazer. Aquele texto imaginado durante o seu trajeto àquele lugar se esvaiu. De forma atrapalhada e insegura, ele desfere frases confusas que parecem não querer chegar a lugar algum, mas precisam chegar. E chegam. No momento do disparo fica tudo mais claro.


O anel dela é arremessado na sua direção, um sinal do que estava para acontecer. Ela o segura. A possibilidade, que só agora lhe vem à cabeça, se concretiza com a palavra por ele dita: “fim”. Ela desfaz aquele sorriso forçado que durara por muito tempo e compreende, enfim, o motivo daquela visita repentina e a tamanha inquietação dele. Chegava ao fim algo que, aos olhos dela, não parecia caminhar para isso. Muito pelo contrário, para ela tudo estava ocorrendo muito bem. A dor na consciência dele pelo ato que acabara de cometer não o fazia pensar em outra denominação para ela, senão, vítima que estava ali – estática – apenas perguntando “por quê?”.


Lágrimas caem nas duas faces: terminar um namoro é muito mais difícil do que ele presumia.


Texto por Dimas Novais

*crônica originalmente publicada pelo site Mundo Jovem (PUC/RS) em 2007

terça-feira, 8 de setembro de 2009

As imagens de Budapeste

Budapeste é a milenar capital da Hungria, centro europeu. Budapeste é o título da obra com a qual o músico Chico Buarque ganhou o respeitado Prêmio Jabuti de melhor livro de ficção de 2004. Budapeste é agora, também, um filme dirigido por Walter Carvalho e que chega hoje (22.05.09) ao circuito nacional. Sem querer reduzir Budapeste a essas três considerações, percebe-se que há nestas um fator comum a mais que o óbvio: a reconstituição. Enquanto urbana, ela é fruto de não inconstantes reconstruções. Como livro, é o terceiro tijolo na edificação literária do compositor, 14 anos após seu último lançamento em livro. Sendo filme, é a terceira adaptação de Chico para o cinema. E é mais exatamente sobre a película que discorro aqui.

O longa-metragem, de 113 minutos, traz à tona a vida amarga de um escritor-fantasma, profissional disposto a escrever para que outros assinem, incondicionalmente vivendo no anonimato. O carioca protagonista José Costa (Leonardo Medeiros) é um desses tipos. Sem ter encontrado a felicidade ao lado de sua esposa, a workaholic e bem sucedida jornalista Vanda (Giovana Antonelli), ele se depara com o reconhecimento de suas obras em nomes de outros, o que lhe exerce um emaranhado de fascínio e solidão. A partir, então, de uma vida de falsos sucessos, Costa só se vê refugiado na inebriante língua húngara. E é através desse idioma que encontra uma paz e uma paixão que não sentira anteriormente.

O ser humano possui uma língua materna – aquela que aprendeu através da convivência com os seus primeiros contatos comunicacionais – e um privilegiado espaço no cérebro para ser preenchido por outras tantas que se queira dominar. Há aquelas pessoas que se apaixonam por certos idiomas e outras que não conseguem nem se quer arranhar outro. Não que seja absurdo apaixonar-se por outro linguajar, mas preencher um vazio íntimo através de uma fluência de diferente palavreado é perceber que amarras culturais só são (mesmo) amarras. E foi assim que o personagem José Costa conseguiu descobrir o caminho para uma sublime felicidade: aprendendo outro idioma – "a única língua do mundo que, segundo as más línguas, o diabo respeita", como diz um ditado. Por um azar mais que sortudo, Costa vai parar em Budapeste e conhece Kriska (Gabriella Hámori), nativa que lhe ensina o vocabulário da terra. Do lecionar ao amar é um passo – leve e bem-humorado passo.



Na fotografia, um tom que vai à altura do agradável aos olhos e que confere ao enredo sensações no limiar entre o gélido e o afável. Na direção, a criatividade de quem tenta sair da abstração das menos de 200 páginas do roteiro original (o livro) para um posicionamento de visões por vezes embaçadas (até literalmente), mas confortável tal qual a direção de fotografia. As duas se encaixam.

Definitivamente, sem a facilidade de leitura de um folhetim esmiuçado até a última ponta, como a comédia “Se Eu Fosse Você 2”, recente explosão de sucesso de bilheteria nacional, Budapeste deve mesmo manter-se aprovada pela peste, já que ela é simpática ao húngaro. Um longa-metragem, entretanto, para além dos leitores do livro homônimo. Drama acima de tudo para ser lido com a visão de um descomprometimento a Chico Buarque. Com ataques de sentimentos contraditórios e algumas cenas no estilo “arriscar tudo” do personagem principal, tal como o palavreado húngaro, o filme pode parecer desconfortável aos brasileiros, no que diz respeito ao roteiro. Entretanto, com o auxílio da fotografia, o longa apresenta uma carga de vivacidade no encontro de José Costa com sua nova paixão: Budapeste.

[Budapeste chega esta semana nas locadoras]

Ficha Técnica

Título no Brasil: Budapeste

Título Original: Budapest

País de Origem: Hungria / Brasil / Portugal

Gênero: Drama

Classificação etária: 16 anos

Tempo de Duração: 113 minutos

Estréia no Brasil: 22/05/2009

Site Oficial: budapesteofilme.com.br

Estúdio/Distrib.: Imagem Filmes

Direção: Walter Carvalho

Produção: Rita Buzzar

Roteiro: Rita Buzzar, Chico Buarque de Hollanda

Fotografia: Lula Carvalho

Elenco: Leonardo Medeiros, Gabriella Hármoni, Giovanna Antonelli, Ivo Canelas, Nicolau Breyner, Antonie Kamerling


Texto por Dimas Novais


*publicado originalmente no site Bahia Vitrine em 21 de maio de 2009.

**imagens de divulgação


sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Cada um com seu brilho. Cada um com seu carnaval.


No comando da alegria.


No deslumbramento com a melodia.


No acesso à folia.


No pão de cada dia.

Fotos por Dimas Novais

terça-feira, 1 de setembro de 2009

"Penetra surdamente no reino das palavras"

Estamos entre os quase 250 milhões de falantes da Língua Portuguesa no mundo, segundo o site Portugal Diário. Sendo considerado o sexto idioma mais falado do planeta, ele tem lá sua importância. E para gerar discussão, reflexão e apreciação da língua pátria de nós, brasileiros, foi inaugurado, em 2006, o Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, capital paulista.

O Museu é um espaço de cultivo e afago da nossa língua materna. Cheio de recheio alheio (europeu), nosso idioma tem influências tantas como os traços fortes oriundos dos primeiros habitantes deste solo, os índios. Inusitado e vivo, o espaço é um dos melhores destinos entre a infinidade de caminhos que se cruzam em São Paulo - dos que tive o prazer de conhecer.

Seguem abaixo algumas imagens contendo frases espalhadas entre paredes e pisos do lugar.

Antes que me atirem uma pedra por revelar o que se pode encontrar no Museu, fica a dica: essas figuras são parte mínima do que há lá para se ver, ouvir, ler e brincar com as palavras.

Penetra surdamente no reino das palavras.
[Carlos Drummond de Andrade, excerto de "Procura da Poesia", em Rosa do Povo(1945)]


[Clique nas fotos para aumentá-las e visualizá-las melhor]


Texto e fotos por Dimas Novais