terça-feira, 29 de setembro de 2009

A indústria do Axé

Manno (baixo), Tuca (vocal e guitarra) e Beto (guitarra) formam o Jamil e Uma Noites

"É o axé que faz o artista, não é o artista que faz o axé.” Falando abertamente, Manno Góes, baixista do Jammil e Uma Noites, contou um pouco sobre a limitação que esse estilo de música baiana impõe aos artistas que dele vivem. De acordo com Manno, a indústria do entretenimento que gira em torno do Carnaval e da venda dos abadás faz com que músicos fiquem presos ao tipo de música que faz a alegria de foliões. Afinal, eles têm que fazer lá em cima a trilha para a azaração correr solta lá em baixo. “A gente é meio escravo dessa indústria.”

A despeito disso, cada músico incorpora em seu som novos elementos para se diferenciar uns dos outros e criar suas próprias identidades. É aí que está a oportunidade para cada um mostrar sua criatividade e burlar, na medida do possível, essa servidão. “Daniela (Mercury) mesmo é sensacional, passeia por vários estilos. Ivete está sempre procurando colocar baladas e outras coisas a mais que o universo do Carnaval.” Mas, de fato, a “estrutura de bloco, promover o beijar na boca, é uma coisa que limita um pouco os artistas. A gente tem uma indústria dos abadás, aqueles que vendem mais são aqueles que têm mais projeção no país.” E não é à toa que o Jammil é uma das principais bandas do segmento. Manno Góes foi considerado o 5º maior arrecador de direitos autorais do Brasil em 2008, dado divulgado pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) - parte disso deve-se ao hit “Praieiro”.


Apesar de ter tirado uma folga desse universo da axé music, Manno volta este fim-de-semana a fazer shows pelo Brasil acompanhando a banda. Ele, que deixou um substituto em seu lugar durante algumas apresentações, enquanto viajava à trabalho – e também de férias, já que aproveitou Los Angeles para passear com a namorada – deverá estar em Salvador no dia 1º de agosto para a realização de mais um Luau do Jammil. O evento será realizado no Gran Hotel Stella Maris. Os ingressos já estão à venda na Ticketmix, Central do Carnaval e nos balcões de ingressos dos shoppings. É o mercado do entretenimento que não para.



Mais e mais projetos

Fervilham na cabeça de Manno novos projetos envolvendo também o Jammil e Uma Noites. Um deles está sendo pré-produzido nessa semana. É um CD cujas faixas serão de autoria de garotos de ONGs baianas, como Mangangá, Cortejo Afro, Projeto Axé e Olodum Mirim. Cada música terá a voz de um artista diferente. Entre os nomes confirmados já estão Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Durval Lelys, Márcio Victor, e claro Tuca Fernandes, vocalista do Jammil. “A gente vai começar a gravar em agosto. Vamos aproveitar ao máximo as crianças para tocarem os instrumentos no álbum”, conta o produtor dessa empreitada.


E novos DVDs do Jammil vêm por aí. Após a apresentação do grupo no Festival de Verão deste ano foi feito à banda um convite para que aquele show fosse lançado em DVD. Apesar de nada ter sido programado e não terem feito, segundo Manno, qualquer preparação anterior, o registro está sendo finalizado e deve sair nas próximas semanas. “O som vai ser estéreo, com áudio real do show e com os erros também. Graças a Deus que acertamos mais do que erramos”, brinca. Além disso, um DVD com ares cinematográficos, que terá um roteiro diferente de um show comum, será rodado em novembro, na Estrada Real de Minas, com destino a Paraty, no Rio de Janeiro. No set-list, 14 músicas inéditas e participações de Skank, Jota Quest e do Clube da Esquina.

Enveredando por uma seara nova, Manno está compondo para a trilha sonora da peça teatral “O Menino do Dedo Verde”. A adaptação do livro infanto-juvenil francês, escrito por Maurice Druon, em 1957, terá Fernanda Ayres como diretora. Os ensaios estão programados para serem iniciados em setembro. “Tenho recebido muitos convites para fazer músicas para outros artistas mas estou sem tempo”, pondera ele com uma justificativa, digamos, desnecessária diante de tudo que já contou. “Está sendo um ano muito produtivo, isso me faz muito bem”.



*matéria originalmente publicada na edição da Tribuna da Bahia do dia 27.07.09
** fotos de Felipe Oliveira / divulgação

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