Budapeste é a milenar capital da Hungria, centro europeu. Budapeste é o título da obra com a qual o músico Chico Buarque ganhou o respeitado Prêmio Jabuti de melhor livro de ficção de 2004. Budapeste é agora, também, um filme dirigido por Walter Carvalho e que chega hoje (22.05.09) ao circuito nacional. Sem querer reduzir Budapeste a essas três considerações, percebe-se que há nestas um fator comum a mais que o óbvio: a reconstituição. Enquanto urbana, ela é fruto de não inconstantes reconstruções. Como livro, é o terceiro tijolo na edificação literária do compositor, 14 anos após seu último lançamento em livro. Sendo filme, é a terceira adaptação de Chico para o cinema. E é mais exatamente sobre a película que discorro aqui.
O longa-metragem, de 113 minutos, traz à tona a vida amarga de um escritor-fantasma, profissional disposto a escrever para que outros assinem, incondicionalmente vivendo no anonimato. O carioca protagonista José Costa (Leonardo Medeiros) é um desses tipos. Sem ter encontrado a felicidade ao lado de sua esposa, a workaholic e bem sucedida jornalista Vanda (Giovana Antonelli), ele se depara com o reconhecimento de suas obras em nomes de outros, o que lhe exerce um emaranhado de fascínio e solidão. A partir, então, de uma vida de falsos sucessos, Costa só se vê refugiado na inebriante língua húngara. E é através desse idioma que encontra uma paz e uma paixão que não sentira anteriormente.
O ser humano possui uma língua materna – aquela que aprendeu através da convivência com os seus primeiros contatos comunicacionais – e um privilegiado espaço no cérebro para ser preenchido por outras tantas que se queira dominar. Há aquelas pessoas que se apaixonam por certos idiomas e outras que não conseguem nem se quer arranhar outro. Não que seja absurdo apaixonar-se por outro linguajar, mas preencher um vazio íntimo através de uma fluência de diferente palavreado é perceber que amarras culturais só são (mesmo) amarras. E foi assim que o personagem José Costa conseguiu descobrir o caminho para uma sublime felicidade: aprendendo outro idioma – "a única língua do mundo que, segundo as más línguas, o diabo respeita", como diz um ditado. Por um azar mais que sortudo, Costa vai parar em Budapeste e conhece Kriska (Gabriella Hámori), nativa que lhe ensina o vocabulário da terra. Do lecionar ao amar é um passo – leve e bem-humorado passo.
Na fotografia, um tom que vai à altura do agradável aos olhos e que confere ao enredo sensações no limiar entre o gélido e o afável. Na direção, a criatividade de quem tenta sair da abstração das menos de 200 páginas do roteiro original (o livro) para um posicionamento de visões por vezes embaçadas (até literalmente), mas confortável tal qual a direção de fotografia. As duas se encaixam.
Definitivamente, sem a facilidade de leitura de um folhetim esmiuçado até a última ponta, como a comédia “Se Eu Fosse Você 2”, recente explosão de sucesso de bilheteria nacional, Budapeste deve mesmo manter-se aprovada pela peste, já que ela é simpática ao húngaro. Um longa-metragem, entretanto, para além dos leitores do livro homônimo. Drama acima de tudo para ser lido com a visão de um descomprometimento a Chico Buarque. Com ataques de sentimentos contraditórios e algumas cenas no estilo “arriscar tudo” do personagem principal, tal como o palavreado húngaro, o filme pode parecer desconfortável aos brasileiros, no que diz respeito ao roteiro. Entretanto, com o auxílio da fotografia, o longa apresenta uma carga de vivacidade no encontro de José Costa com sua nova paixão: Budapeste.
[Budapeste chega esta semana nas locadoras]
Definitivamente, sem a facilidade de leitura de um folhetim esmiuçado até a última ponta, como a comédia “Se Eu Fosse Você 2”, recente explosão de sucesso de bilheteria nacional, Budapeste deve mesmo manter-se aprovada pela peste, já que ela é simpática ao húngaro. Um longa-metragem, entretanto, para além dos leitores do livro homônimo. Drama acima de tudo para ser lido com a visão de um descomprometimento a Chico Buarque. Com ataques de sentimentos contraditórios e algumas cenas no estilo “arriscar tudo” do personagem principal, tal como o palavreado húngaro, o filme pode parecer desconfortável aos brasileiros, no que diz respeito ao roteiro. Entretanto, com o auxílio da fotografia, o longa apresenta uma carga de vivacidade no encontro de José Costa com sua nova paixão: Budapeste.
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Ficha Técnica
Título no Brasil: Budapeste
Título Original: Budapest
País de Origem: Hungria / Brasil / Portugal
Gênero: Drama
Classificação etária: 16 anos
Tempo de Duração: 113 minutos
Estréia no Brasil: 22/05/2009
Site Oficial: budapesteofilme.com.br
Estúdio/Distrib.: Imagem Filmes
Direção: Walter Carvalho
Produção: Rita Buzzar
Roteiro: Rita Buzzar, Chico Buarque de Hollanda
Fotografia: Lula Carvalho
Elenco: Leonardo Medeiros, Gabriella Hármoni, Giovanna Antonelli, Ivo Canelas, Nicolau Breyner, Antonie Kamerling
Texto por Dimas Novais
*publicado originalmente no site Bahia Vitrine em 21 de maio de 2009.
**imagens de divulgação
Estilo bem diferente, mas não menos interessante, para o público brasileiro.
ResponderExcluirMais que assistir Budapeste, quero ir a Budapeste. Simbora? ;P
Chegou a ler o livro, Maum?
Ah, quem sabe em 2010 eu n conheça essa beleza de lugar? Na verdade, pra mim qualquer lugar é lugar pra se conhecer. Vamos marcar num feriadão desses! =D
ResponderExcluirNão li o livro, confesso que de Chico fiquei mais curioso com o último, Leite Derramado, mas no momento as leituras da comunicação já me tomam todo o tempo. =/
Muito bom o comentário sobre 'Budapeste", de Walter Carvalho, baseado no livro homônimo de Chico Buarque de Holanda. Você, com suas palavras, conseguiu transmitir o que é o filme, apesar de ter se concentrado mais no elo semântico e deixado de lado o elo sintático (a linguagem, a estrutura da obra, o problema da transposição da literatura para o cinema). Mas isso já seria se exigir demais de um texto enxuto e oportuno como o seu.
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