World Cup e um estágio de inglês e cervejas

Verde e amarelo andando pelas ruas da capital irlandesa. As cores vestem negros, brancos, morenos, ruivos e orientais. É dia do primeiro jogo do Brasil na Copa do Mundo de 2010 e o que se vê são tantos brasileiros quanto não-brasileiros com a camisa da seleção canarinho Nosso futebol é realmente amado por aqui. E em meio a euforia de início de torneio, eis que me cai do céu um emprego. Sim, agora não preciso mais converter moedas!

O auge do verão está me trazendo gratas surpresas. Nessa semana suei pela primeira vez nas minhas andanças. Parece besteira esse comentário, mas não é. Ando muito nessa cidade e agora sim posso dizer que está quente. 19 graus hoje. Sorte é que a cidade venta. E venta muito. Talvez no inverno eu iriei dizer "azar". Por enquanto não é. Arrisquei-me, empolgado com o sol que fazia em uma manhã de domingo, a sair de casa de bermuda, sem casaco. Resultado: antes de chegar no destino final o céu já estava completamente nublado. Aprendi, então, que não devo me arriscar tanto.

World Cup
Fui assistir em um pub, na Temple Bar Street, o segundo jogo da Copa do Mundo, com amigos brasileiros e um italiano. A partida era entre França e Uruguai. Eu estava preparado para dizer que era torcedor do Uruguai desde pequeno se algum irlandês me perguntasse. Claro que isso não é verdade, mas a última coisa que poderia falar é que torcia pela França. Para quem não sabe, a Irlanda não está torcendo nesta Copa para um time em especial. O país está do lado de qualquer seleção que jogar contra a França. É que a Irlanda ficou de fora do mundial da África do Sul graças a uma jogada de mão de Thierry Henry, em jogo de repescagem européia das eliminitatórias. Além de terem perdido a vaga por um erro do juíz - para não dizer "por uma jogada esperta de Henry" - a partida aconteceu em Dublin, no Croke Park - templo irlandês do futebol. Para saber mais detalhes sobre o fatídico dia de fúria irlandesa, clique aqui.

Ninguém no Velho Mundo ainda ousou chutar uma nacionalidade que não fosse "brasileiro" ao tentar acertar de que parte do mundo eu sou. Todos mandam no ângulo. Acho que tenho mesmo a cara literal de brasileiro. Mas na estreia da seleção na Copa, coloquei um casaco verde e amarelo achando que deixaria à mostra, como nunca, minha nacionalidade. Engano meu. Eram muitos brasileiros vestidos à caráter pelas ruas do centro de Dublin. Mas também era grande o número de irlandeses e outros estrangeiros com nossa camisa. De acordo com uma senhora com que conversei em um ponto de ônibus isso não é novidade: "definitivamente a seleção brasileira é nossa preferida". O neto dela representava bem o que eu acabara de ouvir. É só olhar a foto abaixo.


Meio de paparazzi não pude deixar de registrar com meu celular esse garoto irlandês com o uniforme da seleção ao dizer que o Brasil faria 10 gols em cima dos coreanos. É, o time de Dunga tem torcedores sonhadores até fora do país.

Mais tarde, fui ao pub Shebeen Chic assistir a partida Brasil x Coréia do Norte. Houve uma festa brasileira por lá. Nos intervalos, uma banda tocava Skank, O Rappa, canções de samba e ainda um DJ fazia da bossa nova uma trilha dançante. A partida nem havia começado e o jogador coreano chorão já tinha tomado as atenções ainda no entoar dos hinos. Era emoção demais ou ele já previa o fim do jogo? Suposições à parte, constatei o melhor jeito de identificar se um baiano está por perto. Durante o jogo, entre os gritos da torcida, soltei um típico "Bora Baêa, minha p...." achando que não haveria eco. Umas cinco pessoas repetiram a "saudação" fazendo eu me sentir acolhido pela vibração! Quanto ao resultado do jogo, só digo uma coisa: estamos acostumados com grandes vitórias. 2x1 sobre a Coréia do Norte é, no mínimo, uma má estreia para nosso julgamento típico.

Agora tenho também floor staff no currículo
Ainda não estava preocupado em conseguir um trabalho, mas oportunidades não podem ser desperdiçadas. Quando um conterrâneo me indicou para uma vaga de floor staff no pub que ele trabalha não pensei duas vezes, mesmo ele tendo me avisado: "o que vai definir se você fica com a vaga é seu inglês". Como tenho nível intermediário da língua achei que poderia fazer o serviço que vai de limpar o pub ao fim do expediente até pegar os pedidos dos clientes e entregar-lhes as bebidas - ser um garçom. Como o gerente do The Concorde Pub achou o mesmo, comecei meu trabalho sábado passado. Já no segundo dia, percebi que estava entendendo muito melhor os irlandeses. Isso depois de confudir alguns nomes de bebidas com marcas de cigarro. Um detalhe muito importante do job é que apenas irlandeses frquentam o espaço. Ou seja, vou aprender inglês com sotaque irish mesmo! E também só há mais um brasileiro por lá. Os outros funcionários são todos nativos. Considero, então, que estou fazendo um estágio de inglês e de cervejas. Em breve, vou ficar craque em bebidas!

ps1.: Me rendo às saudades enquanto escrevo por não estar no Brasil vivendo a Copa do Mundo, vendo ruas, bares e pessoas decoradas de verde e amarelo. Lamento até não ver as mais criativas propagandas televisas do mundo quando o assunto é futebol, a nossa.

ps2.: Deixemos de lado o assunto "período junino". Não quero pensar agora nisso. O momento está chegando e isso me traz um misto de inquietações. Afinal, pra mim São João não é uma festa de camisa em que só toca axé. Nunca foi. É mais, bem mais. Pra mim, o período junino é família, forró, licor, amendoim, fazenda de um avô, casa do outro, amigos, lembranças da infância, da adolescência, das peripércias de todo feriado santo de junho. Tudo isso bem junto.

ps3.: O Green Day vai se apresentar em Dublin, dia 23! E... e... e... acabaram os ingressos. Assim que cheguei na cidade isso aconteceu. Desejei pedir indenização ao vulcão por isso. Mas, tudo bem, nesse dia, lá estarei eu tentando comprar ingressos nas mãos dos cambistas. Desejem-me sorte e torçam por mim.
Por fim, preciso dizer que proibí as pessoas aqui de casa a falarem a tal expressão: "São João". Sem mais para o momento.

See ya!