sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Um convite à mestiçagem

A cantora baiana apresenta ao público o projeto Canibália, que compõe um disco com experiências sonoras hipercriativas, dois documentários, uma exposição de artes plásticas e o show, que estreia em Salvador dia 1º de janeiro


“Eu trago o sol, nos meus olhos um farol. Eu trago a luz que vem de lá do Sul”. Através dos versos da canção “Sol do Sul”, Daniela Mercury diz ao mundo o que a difere de outros artistas. Consciência do passado e do presente de seu povo e uma luz criativa notável. Tudo isso está em Canibália, uma antropofágica produção artística que envolve um disco, uma exposição de artes plásticas e dois filmes. A compilação de tantas influências populares, refinadas e modernas anuncia: o convite à mestiçagem está feito.

Através de uma coletiva de imprensa virtual, a cantora baiana falou sobre o ousado projeto, já lançado em show e, agora, disponível em CD. São cinco capas diferentes para o álbum que está sendo comercializado no Brasil e uma delas será única para vendas no exterior. “As cinco capas é para as pessoas terem percepções diferentes. É o mesmo disco, mas a ordem das músicas muda, o que altera o conceito que as pessoas vão ter do disco, é uma provocação minha. Cada um responde de um jeito”, explica. Nesse momento, esse conceito distinto fez sentido pra ela. “No próximo, talvez, venham 10 capas ou meia-capa, vai saber, do jeito que as coisas estão indo com os CDs.” Inicialmente o projeto soou estranho para gravadora, “mas agradeço a eles por me apoiarem nessa ideia que me pareceu gostosa.” Haverá uma edição limitada, depois as compras acontecerão através do site da Sony Music. Em um primeiro momento, a capa com a imagem da artista com a flor no rosto é a principal – e é a que foi distribuída lá fora também.

Além de “Sol do Sul” (parceria entre Daniela e seu filho, Gabriel Povoas), outras 13 faixas compõem a obra. Candomblé, drum and bass, axé, twist, house, rap, samba, reggae, merengue e rock. Entre ritmos e arranjos supertrabalhados, como na versão eletrizante de “Tico-tico no Fubá”, que junto a faixa “O Que Que a Baiana Tem?”, simboliza uma homenagem ao centenário de nascimento de Carmem Miranda, a baiana mostra sua percepção de mundo em canções autorais e regravações. “Oyá Por Nós” (Daniela e Margareth Menezes), “Preta” (com part. de Seu Jorge) e “O que Será” (Chico Buarque), estão entre as conhecidas do público. Destaques também para “Trio em Transe”, “Castelo Imaginário”, “Dona desse lugar”, “This Life Is Beatiful”, que tem participação de Wyclef Jean, e “Cinco Meninos”. Esta última, uma curiosa gravação que conta com as vozes de vários membros da família Mercury.

A artista fala que, a seu pedido, todos tiverem que cantar e o fizeram muito timidamente porque a maioria nunca cantou. “Foi mais difícil fazer meus sobrinhos cantarem, descobrir a melhor parte da faixa para eles. Minha sobrinha tinha que cantar ‘5 meninos’ e ela dizia ‘5 patinhos’”. Essa música é uma homenagem aos seus pais. Ela considera “Canibália” um manifesto de afeto, que fala de sua família, e de afetos como Carmem Miranda e Dorival Caymmi.

Nos poros, arte
“Eu inspiro arte por todos meus poros, e transpiro também. A gente vai aprendendo durante a vida e o desejo sempre foi enorme para trazer delicadeza e coisas especiais – não só bonito, mas de provocador”, explica. O show, lançado em agosto, em São Paulo e Rio de Janeiro, chega à Bahia no primeiro pôr-do-sol do ano, durante o tradicional show da cantora no Farol da Barra. A apresentação é dirigida musicalmente por ela junto à filha Giovana e conceitualmente pelo filho Gabriel. “Fiz todos artistas desde pequenos, para me ajudarem”, revela. “É um show muito forte, entro de vestido branco, descalça, depois já vou para um rock com uma bota... são trocas de roupas, detalhes que agregamos durante o show”, adianta.

Fazem parte do projeto, ainda, o documentário “Música: Mãe da dignidade”, produzido por Daniela, que já está filmado e editado. “Faz parte do meu interesse pela vida social brasileira e de como a música reúne todos e como ela se insere no sentido de educação, traz cultura e liberta.” Um outro vídeo (longa-metragem) contará a história do axé e os elementos que o constitui. “Vou mostrar as sínteses importantes que o axé trouxe para a cultura brasileira.” Nos próximos dois anos, uma exposição com artes plásticas, música e dança será produzida com saraus sobre o cenário da música brasileira.

Em sua agenda, está o Réveillon em Sauípe e shows em João Pessoa e em Aracajú. Dia 8 de janeiro, segundo a cantora, haverá uma supresa em Salvador. “Aos 44 anos, estou aprendendo mais. Sempre disse aos meus filhos: mais do que ter um objeto, ter algo pra ser, é bom agarrar todas as manifestações artísticas – isso nada tira de nós. (...) Vou inventar mais coisas”, promete Daniela, que recebe hoje o título de cidadã paulistana. “O Canibália é um convite para a arte livre, enxergar os gêneros,” diz ela, que não se prende a qualquer um deles.

*matéria originalmente publicada em 07.12. 2009 na Tribuna da Bahia
*fotos de divulgação (as cinco últimas imagens são as capas do disco)

Um comentário:

  1. Daniela n deve msm se apegar a nenhum ritmo ou estilo, pois isso é essencial para continuar viva na terra do axé. Daniela sabe o q faz!

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