Quatro décadas depois de dar o pontapé para o início de um grupo que se tornou marco na história da juventude brasileira, Moraes Moreira lança “A história dos Novos Baianos e outros versos”. Este novo trabalho teve participação de um dos seus dois filhos, o músico Davi Moraes, e inclui CD e DVD. A apresentação do registro aos baianos aconteceu na última segunda-feira, à noite, durante sessão de autógrafos na Livraria Saraiva do Shopping Salvador.
O show de gravação foi realizado na Feira de São Cristovão, centro cosmopolita de reunião da cultura nordestina, no Rio de Janeiro, em junho de 2008, e revive os 40 anos de história musical de Moraes Moreira, apresentando além da biografia dos Novos Baianos, sua carreira solo e, ainda, canções inéditas. Neste trabalho, que chegou às lojas esta semana, ele não só canta, como conta na forma de cordel toda uma história a partir de sua visão. A idéia surgiu de um livro homônimo lançado em 2007. A repercussão positiva e a evolução dos pockets shows que fazia em apresentações com banda de suporte e grandes produções impulsionaram Moreira a querer alçar vôos mais altos.
“Começo dos anos 70. Foi um momento de glória, prometo agora contar. Sem medo, os Novos Baianos entram no trem da história e não podiam parar”, diz o cantor, antecedendo “Brasil Pandeiro”, no DVD. Na primeira parte do show, Moraes canta e conta a trajetória do grupo. Passeia por canções como "Ferro na Boneca" e "Colégio de Aplicação", do primeiro LP, além dos clássicos que insistem em povoar a mente de muitos fãs saudosos, como "A Menina Dança", "Acabou Chorare", "Mistério do Planeta", "Brasil Pandeiro" e o hino da geração paz amor, "Preta Pretinha". Na outra parte da apresentação, Moreira abre as cortinas para o regionalismo brasileiro. Sucessos como "Meninas do Brasil", "Lá vem o Brasil Descendo a Ladeira", "Sintonia", "Forró do ABC", "Eu Também Quero Beijar", além de homenagens a Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, compõem o repertório. Duas inéditas, "Spok Frevo Spok" e "Oi", fazem a ponte, e aí chega o carnaval. Forma-se o "Bloco do Prazer" e o “Chame Gente” transforma o palco numa "Festa do Interior".
Qual é a essência dos Novos Baianos? “Brasil”, responde Moreira. Para ele, o grupo foi formado por “uns meninos que saíram do interior acreditando no Brasil. É uma turma que se afinou não por laços de sangue, mas por laços das idéias, dos ideais. Estávamos antenados com o tropicalismo”. Da história dos NB, Moraes Moreira destacou “Preta Pretinha” como a mais popular composição da dupla Moreira e Galvão. “Essa parece que tem dois acordes só, qualquer músico iniciante sabe tocá-la”, brincou. Além disso, “Acabou Chorare” é relembrada como um momento mágico, como um período sublime dos Novos Baianos.” O ponto alto da poesia, da letra e até do modo de tocar violão do grupo”.
E os Novos Baianos, voltam?
Se depender de Moraes Moreira, os Novos Baianos já fazem parte da história antológica da MPB. Por isso, um retorno seria improvável. Presente no evento, Galvão, por sua vez, estava acompanhando o lançamento do amigo, com a cabeça fervilhando de idéias. São novos projetos que visam o tão esperado retorno da banda. Para que os caminhos dos cinco se encontrem novamente, ele contou que está captando recursos para viabilizar uma gravação de CD e DVD ainda este ano e para fazer uma turnê dos Novos Baianos juntos, todos juntos. Segundo ele, Paulinho Boca de Cantor, Baby Consuelo e Pepeu Gomes sabem de sua proposta e já toparam, mas Moreira não sabia, pelo menos até aquele momento. Contudo, saberia naquela mesma noite. “Hoje minha experiência é maior e minha empolgação é a mesma. Já nem uso mais drogas. A volta dos Novos Baianos com Moreira seria uma força maior”, disse.
Questionado, então, sobre um possível retorno dos Novos Baianos, Moraes Moreira foi claro: “se a gente se separou é porque não tava numa boa. A gente tava num momento em que as coisas não estavam fluindo bem.” E sobre o projeto de retorno dos Novos Baianos ele foi veemente. “Acho difícil, não impossível, claro, mas acho difícil. A vida mudou”. E justifica afirmando que o contexto de vida dos integrantes da antiga banda é outro hoje. “As pessoas não continuam iguais. Se for para fazer algo que não chegue de novo em um nível de excelência, prefiro não fazer”. Sobre voltar para o carnaval de Salvador, falou: “ou venho com dignidade para o carnaval da Bahia, com o respeito que mereço, afinal eu prestei um serviço, continuo fazendo fora do Estado”. Ele ainda comentou sobre a indústria cultural que o axé produziu nos últimos anos: “o axé tomou conta porque deixaram. Tem que equilibrar o bom negócio e a responsabilidade cultural”.
Os caminhos de Moreira apontam para shows de apresentação do DVD e o lançamento de um livro em 2010. Em Salvador, ele pretende tocar ainda este semestre, provavelmente na Concha Acústica do Teatro Castro Alves. Já outro livro, o “Novos Elétricos”, que está escrevendo sobre os 60 anos do trio elétrico, deve chegar às lojas no início do próximo ano. De acordo com Moreira, há muito trabalho inédito dos Novos Baianos para sair, então não vai ser preciso um retorno do grupo para que essa história seja relembrada e reproduzida. “Me vejo e me reconheço para sempre um Novo Baiano. Se pudesse, faria tudo de novo”, afirmou durante o concorrido evento. Pela disposição, esse Novo Baiano deve continuar a fazer história por muitos anos ainda, mas com versos só seus.
*matéria originalmente publicada na Tribuna da Bahia
*fotos de divulgação