Palavrões, roupas pretas, bateria e guitarras. O baiano Marcelo Nova levou, finalmente, rock´n roll ao Música Falada. Na 9ª edição do evento, realizado na última terça-feira, 6 de outubro, nada de agogô, pandeiro ou qualquer vestígio de axé. Naquela noite, o rock foi soberano no Teatro Castro Alves. E o público, embora não tenha lotado a casa, estava fervoroso. Apresentado como “um homem que resolveu ser fiel a si mesmo”, o ex-vocalista da Camisa de Vênus contou curiosidades sobre a vida pessoal e o antológico grupo.
Um coro já podia ser ouvido antes do show começar. Eram os fãs ansiosos pela entrada do roqueiro. O irreverente e franco artista subiu ao palco, então, ao seu estilo “desbocado” e soltou logo a primeira canção que gravou na carreira, cujo refrão, símbolo de seu discurso, diz: “a cidade do axé, a cidade do horror”.
Os apresentadores, Fernando Guerreiro, André Simões e Jonga Cunha, fizeram perguntas em meio às músicas tocadas por Nova e sua banda, conduzindo a noite. O cantor falou sobre como se sente deslocado do universo musical e comportamental baiano desde a adolescência. Até hoje, ele não nega ser uma antítese do que a indústria da música propõe e a grande maioria dos artistas seguem. “O que eu vou fazer no prêmio da MTV? Eu sou vira-lata, aquilo ali é pra poodle.”
Transgressão
A ligação que criou desde cedo com o rock´n roll não veio de influências familiares ou de amigos. Segundo Nova, foi puro instinto. Enquanto sua irmã ouvia João Gilberto e os pais não tinham hábito de escutar música, a primeira transgressão que teve ocorreu aos nove anos, ao ouvir Little Richard e pular no sofá de casa. “A selvageria da sonoridade do rock me atraiu em contraste com a placidez da minha casa,” revelou.
Missionário do rock, Nova não observa com bons olhos o pop rock emo produzido atualmente. “Hoje em dia é mais um exercício do marketing”. Para ele, a função das bandas do gênero parece ser a de entreter apenas. E sobre o término da Camisa de Vênus, afirmou ter acontecido na hora certa. “Todo adolescente pensa ou já pensou em ter uma banda. Tem uma coisa juvenil aí muito forte”, opinou. E essa juventude transviada passou a cansá-lo. Houve um momento em que Marcelo começou a achar chato manter a marra de vocalista de rock. Além disso, certos caminhos do grupo geravam divergências entre os membros, que pensavam muito diferentes.
Embora seja um consumista assumido, Nova contou ter recusado alterar o nome da banda por um contrato com a Som Livre (gravadora da Rede Globo). “A esposa de Roberto Marinho não queria uma banda com esse nome no Fantástico”, disse. Pouco tempo depois, a banda fez sucesso e a Rede Globo resolveu aceitá-la.
O grupo, aliás, foi formado para esculhambar a Bahia mais que por qualquer outro motivo. O que Nova fazia (e ainda faz) é desmisticar a áurea de cidade símbolo da alegria que, para ele, a classe artística criou e envolveu Salvador. “Essa Bahia mítica não existe. Carmem Miranda nunca esteve aqui, Dorival Caymmi nasceu e morreu no Rio de Janeiro." Marcelo Nova ainda falou que já cheirou cocaína três vezes e não gostou. “Achei uma merda!” Essas e outras histórias foram contadas em meio a canções como “A Balada do Perdedor”, “Coração Satânico”, “Cocaína” e “Hoje”.
*matéria originalmente publicada na edição da Tribuna da Bahia do dia 10.10.09
*fotos por Edgar de Souza
*fotos por Edgar de Souza
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