terça-feira, 20 de abril de 2010

A maioridade de Zezé e Luciano

Dizem que o tempo é o melhor remédio. E quando o assunto é amor, Zezé Di Camargo e Luciano traduzem esse tempo em música - com 30 milhões de cópias vendidas em dezenas de discos. Este é o mote da campanha de divulgação dos novos CD (dividido em dois volumes) e DVD da dupla que, aos 18 anos de carreira, contabiliza números incríveis de vendas e popularidade no Brasil. “Duas Horas de Sucesso” é o título do novo trabalho, que sugestivamente remete aos tantos hits que compõem a carreira dos irmãos. Em entrevista, o mais velho deles, Zezé, fala sobre um momento difícil, mas que ficou para trás: o de superação. Ao passar por uma fase de incertezas quanto à sua voz, ele continua mostrando o velho e conhecido potencial como cantor aos seus fãs, ou melhor, à sua “torcida”, como ele define. E seguindo o que seu médico recomendou: ele só precisa agora cantar, cantar e cantar.




Zezé Di Camargo chegou a pensar que nunca mais voltaria a cantar como antes e até passou por sua cabeça parar de fazer o que mais gosta. Mas a vontade de continuar a trabalhar e a medicina o trouxeram de volta seu vozeirão. O problema foi descoberto há mais de uma década e diagnosticado como um cisto congênito nas bordas das cordas vocais – empecilho que o impedia de alcançar notas mais agudas. Mas no início de 2008 ele resolveu passar por uma cirurgia e o problema começava a ser resolvido. Após tratamento, a ordem do médico foi clara: “canta, canta toda hora.” Um detalhe, isso tudo aconteceu em meio a gravação de um CD, adiado, mas lançado em novembro de 2008 e que foi finalizado após a gravação do DVD que os irmãos lançam somente agora (agosto de 2009). É que por questões mercadológicas, Zezé e Luciano (junto a gravadora Sony Music) preferiram lançar um disco de inéditas e engavetar o show gravado há um ano em São Paulo.

Após o 16º álbum de estúdio da dupla, chega, enfim, às lojas o 3º DVD. Diferente dos registros audiovisuais anteriores, neste não há participações especiais. “Senti vontade de cantar tudo sem duetos e provar que estou completamente curado”, justifica Zezé. O artista diz estar seguro até para cantar no Altas Horas, da Rede Globo. O programa é totalmente ao vivo, por isso, ele confessa já ter sentido medo em se apresentar lá algumas vezes. Sem aparentes receios, assim o faz no DVD, cuja duração é de 120 minutos, em 22 faixas, entre elas quatro inéditas.

Ciente da relevância dos compositores em seu sucesso, ele se empolga ao falar sobre eles. “Tem 100% de importância. O compositor é o dono da obra-prima. Não adianta ter músicos, técnicos, banda, você é apenas o cantor. A filosofia, a mensagem, vem da cabeça dele e você é o meio para que isso chegue ao público.” E vai mais além: independente de qualquer crítica contra sua carreira, ele crê que as letras que a dupla interpreta são bem elaboradas sim: “podem falar o que quiser, mas as letras nossas têm começo, meio e fim”.

O show
No início do ano passado começou-se a discutir como seria o próximo show da dupla, uma tarefa árdua, já que são tantas as faixas que “não podem ficar de fora” para não desagradar ao público. Concepção feita e apresentação montada, os artistas rodaram o país culminando na gravação do DVD no final daquela temporada com algumas poucas diferenças no set-list.

“Vem Ficar Comigo”, “A Ferro e fogo”, “Sufocado”, “Fui Eu”, “Pra Mudar Minha vida”, “Pão de Mel”, “Nosso amor é ouro” e uma nova roupagem para “Meu país”, são alguns dos hits radiofônicos. Além das inéditas, as novidades no repertório do show ficam por conta das interpretações em castelhano de “Saudade” (“Te Estraño”) e “Mi Universo Eres Tu”, do pout-pourri “Como um anjo”/”Faz mais uma vez comigo”, cantado por Luciano em 1ª voz, e do instrumental capitaneado pelo saxofonista Mário Lúcio, em “Something” que, junto a “Hey Jude”, forma um tributo aos Beatles. Outro aspecto do DVD que chama atenção é o requinte artístico e cênico do espetáculo. Sob a direção de produção de Casagrande e com o projeto cenográfico assinado por César Augusto, o show exibe imagens no telão de fundo, cenários retráteis e até encenações para aguçar a sensibilidade do espectador com a trilha da dupla.

Além da formação original com seis músicos e três vocais, a apresentação traz a participação de dois violinistas, Gabriel Jacó e Joseval Pereira, e da violinista rabeca Lenara. Em alguns quadros, o corpo de balé, com coreografia de Rosely Rodrigues, do Grupo Raça Companhia de Dança, adorna ainda mais o show.
Popularidade
“Eu digo que, pelas pesquisas já feitas nesses anos sobre música no país e pelo que a gente observa, a gente conseguiu traçar um perfil do que é Zezé Di Camargo e Luciano. Talvez junto com o Chiclete com Banana e Roberto Carlos somos os que tem maior fidelidade do seu público. A gente tem torcida, não tem fã”, afirma sem medo de ser arrogante. Mas é realmente isso que os números da DataFolha expressaram há dois anos, quando divulgaram que, com 12%, a dupla goiana está em segundo lugar no ranking dos mais ouvidos do país. Só perdem para a banda Calypso. “É difícil chegar uma pessoa com um disco só na mão pedindo autógrafo”, conta.

São 18 anos de estrada e 19 álbuns de carreira lançados, quase um por ano. Férias? Nem pensar! Não só em função da demanda do público e da pressão da gravadora, mas por prazer em fazer novos trabalhos e cumprir uma agenda com média de 130 shows anualmente. “Cada cabeça é uma sentença. A minha diversão na vida é fazer shows. E adoro as pessoas com que trabalho, me sinto bem com elas. Já cansei de deixar jatinho de lado pra seguir viagem com minha banda, com minha equipe, de ônibus, em distâncias mais curtas, uns 500, 600km até. É uma questão de prazer. Sou um operário da música”, revela.

De acordo com Zezé, a rotatividade intensa de lançamentos fonográficos no mercado brasileiro impulsiona uma produção anual quase ininterrupta da dupla. Mas, mesmo se a gravadora não solicitasse novos trabalhos, realmente parece que férias prolongadas não estariam nos planos dele. “Não dou conta de ficar cinco, seis anos dando as costas para o público, para a mídia, para as pessoas que gostam do nosso trabalho. Músicos consagrados de outros países fazem muito isso, dão várias pausas na carreira, mas isso comigo, não."

Nova música sertaneja
Mesmo com o boom de uma vertente “teen” da música sertaneja, denominada de sertanejo universitário, de acordo com Zezé, nada na carreira deles foi abalado. “Novos nomes surgem até na música sertaneja, mas nossas vendas não se abalam, nosso público não diminui.” E sobre os nomes recentes da música sertaneja quem têm pipocado na cena fonográfica brasileira, ele é direto: “Não vejo como música nova. O que eles fazem aí e dizem que é novo, já se faz há muito tempo. Não tem nada de novo. Surgem vários, mas uns ficam, outros não. Temos que cantar independente de gêneros musicais. Não adianta pular de galho em galho. Nosso público tá conquistado. Temos uma chancela, não temos porque mudar”, diz.

Questionado se o nível estável de sucesso alcançado já o deixou relaxado com o que gravar ao ponto de crêr que qualquer coisa que cantasse faria sucesso, ele não só é veemente como exemplifica casos do contrário, de quando (acredite ou não), ele burlou o sucesso. No período em que morou em Miami (EUA) em função do episódio do seqüestro de seu irmão Wellington Camargo, em 1998, um diretor musical viajou até a cidade só para lhe mostrar uma música que, para ele, seria sucesso no Brasil em menos de um ano. “Se vocês não gravarem, outros vão fazer sucesso com ela. Vai ser o maior fenômeno do Brasil em pouco tempo”, teria ele dito a Zezé. A música realmente estourou e foi não só uma das mais tocadas, como uma das mais regravadas naquele ano, “ponga” que Zezé não parece não ter se interessado em fazer. A canção era “Morango do Nordeste”, sucesso original na voz de Lairton e Seus Teclados. “Não era a nossa cara, não tinha nada a ver com a gente. Não gravaria aquilo de jeito algum”. Fato parecido aconteceu com o hit “Beber, Cair e Levantar”, que o cantor se negou a gravar e acabou sendo uma das mais executadas do ano passado. “Nem que me falassem que a minha carreira iria afundar se eu não gravasse aquilo. Nem por 10 milhões de discos vendidos”.

Próximos passos
Um CD e um DVD acústico estão programados para serem gravados até o final do ano, possivelmente, com convidados. “Quando a gente chama um artista grande, por mais que a gente diga que não, parece que queremos pegar uma ponga no sucesso dele”, explica Zezé, que, apesar disso, já gravou com nomes consagrados. “Claro que tivemos parcerias grandes que engrandeceram nosso trabalho, como Ivete Sangalo e Chico Buarque”, admite. Sobre um artista da nova geração com o qual gravaria, ele cita Paula Fernandes, uma jovem cantora, de 25 anos, que o remete a Almir Sater. “Pássaro de Fogo”, o primeiro álbum dela lançado através de uma grande gravadora “é um dos melhores CDs que já ouvi na vida. Ouvindo as coisas oportunistas que escuto no rádio, posso dizer que Paula é maravilhosa”, opina.



*matéria originalmente publicada em 04.08. 2009 na Tribuna da Bahia

*foto de divulgação
* texto de Dimas Novais

Nenhum comentário:

Postar um comentário