terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"O Menino da Porteira" 33 anos mais novo

A paixão pela música e pela vida no campo são os fatores que ligam intimamente o cantor Daniel com Diogo, personagem que interpreta em “O menino da Porteira”, filme que estreou, ontem (6 de março de 2009), em circuito nacional. Para contar sobre a primeira experiência como protagonista, Daniel veio à Salvador, na última quinta-feira, participar de uma coletiva de imprensa e, logo após, fazer um show na Costa do Sauípe. Além dele, o diretor Jeremias Moreira e a atriz Jacy Ferreira, que interpretou Filoca na versão original da obra, estiveram presentes.

Em 1976, a primeira filmagem de “O Menino da Porteira” foi realizada e, apesar das limitações tecnológicas, estruturais e financeiras, que nortearam a produção, mais de quatro milhões de espectadores assistiram-no nos cinemas brasileiros, tornando a película um sucesso de bilheteria. Mais de 30 anos depois, Jeremias Moreira e Moracy do Val voltaram a se encontrar para assumir a direção e a produção, respectivamente, da refilmagem da obra. Desta vez, o cantor Sérgio Reis cedeu o papel de Diogo, o protagonista do filme, a um ícone da música romântica sertaneja mais recente, Daniel. Além disso, estão presentes no longa-metragem José de Abreu, que vive o Major Batista, Vanessa Giácomo, que interpreta Juliana, e Rosi Campos, a Filoca.

Para não simplesmente repetir o que foi registrado em 76, Moreira incorporou outros elementos e contou com uma parafernália técnica impensável três décadas atrás. “Todas as mudanças foram intencionais. E naquela época ainda era muito mais difícil fazer cinema”. A indústria cinematográfica brasileira também evoluiu. A primeira película foi gravada com uma equipe de nove pessoas e o equivalente a cerca de R$300 mil como recursos, enquanto a regravação contou com 84 profissionais envolvidos em produção e captou aproximadamente R$7 milhões.

“A espinha dorsal do roteiro é a mesma, mas a gente cortou diálogos que contavam a história. Acho que cinema é imagem”, contou Moreira, que enriqueceu a participação infantil no filme e o envolvimento amoroso entre os personagens principais, Diogo e Juliana – estratégias muito utilizadas para criar empatia com o público. “Quando se faz um filme não dá para ficar na porta do cinema falando: queria fazer daquele jeito, mas não consegui. Não tem desculpas. Mas estou satisfeito,“ afirmou.


O cantor, o protagonista
A escolha de Daniel como protagonista nasceu de uma experiência anterior entre ambos na gravação de um vídeo comercial. “Percebi que ali havia um ator nato. Ele é disciplinado e dedicado. Às vezes até demais, chegando a incomodar a gente”, comentou Moreira, entre risos. Os dois únicos papéis que o cantor tinha interpretado foram pontas nas produções infantis “Xuxa Requebra” (1999) e “Didi, o Cupido Trapalhão” (2003). Nestes filmes, a exigência para atuar foi pequena, já que a proposta deles não é de serem grandes obras do gênero, muito menos da cinematografia brasileira. Mas no caso de um filme voltado para adultos, como “O Menino da Porteira”, isso muda. E como muda.

Daniel revelou que enxerga uma grande evolução em sua atuação de lá pra cá. Amadurecimento proporcionado por, entre outros fatores, a participação por 20 dias em um laboratório de preparação de elenco. Além disso, a estrutura, literalmente ao seu redor, o ambiente do campo, que lhe é natural, e até a música que nomeia o filme, e que ele interpreta, foram agentes facilitadores de sua adaptação. “É muito complicado. Tem que vestir a camisa, acreditar em si e saber que críticas virão. Vão surgir comparações. É normal isso. Mas foi um desafio”, admitiu Daniel, contando, também, que não existe pretensão de seguir exclusivamente a dramaturgia, “mas se receber um convite, por que não?”, já que para ele “o ‘não’ não existe.” Em relação à atuação de Daniel, o diretor foi só elogios: “Ele foi muito bem (...) “Não gosto dos outros filmes (que Daniel participou), mas acho que esteve bem neles”.

Expectativas
Aconselhado por Moreira, o elenco não assistiu a versão original do filme para evitar vícios de interpretação, já que sua intenção foi a de recriar a obra. “Esse filme é mais dinâmico, não tem muita barriga, você não tem muito tempo para pensar”, contou Daniel, que, em breve, reviverá mais um personagem de Sérgio Reis, mas desta vez nas telas de TV. Sob direção de Benedito Ruy Barbosa, a próxima novela das 18h, remake de Paraíso (1982), terá o cantor, e agora também ator, interpretando Zé Camilo, mais uma vez, um boiadeiro. “Entrei nos 45 do segundo tempo na novela, graças a minha atuação em ‘O Menino da Porteira’ à convite do próprio Benedito”, explicou.

Um dia antes da coletiva na capital baiana, houve a reinauguração do Cine São José, na cidade de Brotas interior de São Paulo, terra natal do cantor. Ele comprou o espaço, que há 20 anos estava desativado, foi o responsável pela reforma e reabriu o cinema exatamente na pré-estreia de “O menino da Porteira”, quando contou com presenças de amigos do meio artístico, como Xuxa, a dupla Guilherme e Santiago, Alexandre Pires e Sérgio Reis. Segundo Daniel, sua intenção não é lucrar com o empreendimento, mas sim torná-lo um centro cultural para a cidade.

Questionado sobre as expectativas em relação a recepção da platéia do filme, Moreira afirmou que a produção tem todos os elementos para fazer sucesso, mas se o potencial vai se converter em triunfo não dá para prever. O filme possui um ar interiorano muito semelhante ao que permeia “Dois filhos de Francisco”, 5º filme brasileiro de maior bilheteria entre 1970 e 2006, segundo a Agência Nacional do Cinema (Ancine), instituição vinculada ao Ministério da Cultura. Se o clima caipira vai novamente contagiar o país, só os números poderão afirmar a partir do público presente nas 270 salas de exibição espalhadas pelo Brasil. Daqui há algumas semanas, poderemos conferir se, após 33 anos, “O Menino” cresceu em bilheteria.


*matéria originalmente publicada em 07.03. 2009 na Tribuna da Bahia
*fotos e texto de Dimas Novais

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