terça-feira, 3 de novembro de 2009

Os muitos sons de Toni Garrido

Capa do disco Todo Meu Canto, o primeiro solo do cantor

"É muito gostoso recomeçar. É muito bom ter coragem, refazer, experimentar”. Com a empolgação de quem está começando um novo momento na carreira, o cantor e compositor Toni Garrido falou, por telefone, à Tribuna da Bahia sobre as novas sonoridades que estão divertindo seu trabalho, a saída dele do Cidade Negra e a solidão de um pop star. “Todo meu Canto”, primeiro álbum solo do artista deve surpreender àqueles desavisados que pensam nele como um cantor de reggae – e só disso.

A radiofonia do Cidade Negra, sua ex-banda, está passando longe de ser a trilha de Toni Garrido neste momento. Seus caminhos agora passam por um experimentalismo e uma mistura sonora que escolheu parâmetros mais extensos do universo da black music como referência. Embora sempre tenha andado nessas vertentes, agora o objetivo é testar outros sons. Ou seja, rock, música afro, soul, funk (daqueles da velha guarda) e tantas outras influências de uma musicalidade que não tem fronteiras fazem parte de sua vida musical atual. E estes são apenas alguns dos gêneros que o permitem se divertir em um canto só seu. Mas, claro, há espaço para reggae sim. Afinal, o reggae também é black.

Co-produzido e mixado por Liminha, “Todo meu canto” é uma festa de encontros de Toni com sons que o fazem vibrar. Já na primeira música de trabalho, percebe-se o quanto ele deixa que novas influências enriqueçam sua musicalidade mas sem que precise abandonar o passado, de onde ele bebe veemente. “Me libertei” (Tony e Frank), o carro-chefe do disco, é um hit de um outro Toni, o Tornado, ícone brasileiro da funk music, da década de 70. Embora possa parecer que a música seja uma flechada no Cidade Negra, banda que deixou há quase um ano, o título não se refere a uma sensação de quem estava preso e se soltou, mas sim, a de um novo vôo para um céu aprentemente sem limites criativos. “Foram mais de 14 anos de pura felicidade. Não seria leviano, grosseiro, muito menos idiota de falar qualquer coisa ruim do tempo em que fiquei na banda. Pelo contrário, só coisas boas tenho a dizer. Foi a minha energia que mudou”, explica.

Quando questionado sobre o estigma de ser regueiro, uma surpresa: “engraçado, é a primeira vez que me perguntam isso. É o oposto do que me perguntaram a vida inteira.” Segundo ele, lhe indagavam sobre o que achava das críticas que diziam que o Cidade Negra se afastava do gênero. Mas o momento agora é outro e o estilo jamacaino é minoria entre as faixas de seu álbum. “Não. Eu não me incomodo. Amo o rótulo de regueiro. Ser regueiro é maravilhoso.”

Músicas de funk e reflexão
Durante os cinco meses de ensaios, gravações e masterizações, Toni contou com participações de antigos e novos parceiros. Entre as novidades, MC Sapão está na faixa “Fim de semana good time”, parceria que reitera para quem tinha qualquer dúvida: ele caiu no funk. De acordo com o cantor, o estilo de música que quis fazer determinou a escolha pelo MC. “Gosto muito de música eletrônica, de me jogar na pista, da batida mesmo, e ele tem isso”, comenta. Antes mesmo de ser questionado, ele se antecipa a falar sobre as polêmicas letras do funk carioca. Quando pensa no gênero, Toni se lembra de artistas como Claudinho e Buchecha e em músicas como “Rap da Felicidade”, cujo refrão, “eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci”, transmite, de acordo com ele, boa energias. Assim também é o MC Sapão para Toni, que difere-se por trazer ao público versos de boas vibrações. “Fiz questão de gravar com ele”.

Em “Minhas lágrimas”, o maestro e violoncelista Jacques Morelenbaum cria um clima de pura harmonia com um quinteto de cordas. Na canção autoral, composta por Toni ainda na adolescência, ele reflete sobre os sentimentos de felicidade e tristeza que se contradizem rotineiramente na vida de um artista. “Tudo é tão bom quando está sendo. Tudo é tão bom quando se é e estar”, diz um dos versos. Esse “estar”, refere-se ao pop star e diz que muitas vezes a alegria mostrada ao público, diante das luzes dos holofotes, não corresponde com a solidão mais íntima, ofuscada ali, dos quartos de hotel. “É uma assunto que o Cazuza já tratou”, lembra.

Ao todo, o CD é composto por 13 faixas. Alguns dos destaques são o funk suingado de “Perfume da Nega”, a releitura de “Tudo Que Você Podia Ser” (Lô Borges e Marcio Borges), do Clube da Esquina, além da participação do rapper português Boss AC em “Rimas de saudade”, onde Toni flerta com o hip hop. Apesar desse ser o mergulho mais profundo que já deu no seu próprio gosto pessoal, ele confessa que tem pela frente muito o que transitar neste meio. “Tenho ainda alguns álbuns a gravar de black music”. Sua diversão só está começando.


*matéria originalmente publicada na edição de 04.05.2009 da Tribuna da Bahia
*fotos de Bob Wolfenson/divulgação

Um comentário:

  1. Já tinha ouvido falar sobre a carreira solo do Toni, e fico curioso, visto que gosto dele enquanto artista, quero muito ouvir, depois me passa, vamos falar dessa entrevista. Até

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